Tendência é que crédito fique mais barato com taxa de juros mais baixa e favoreça o consumo
Fatos recentes ocorridos na economia brasileira forçaram o BC (Banco Central) a baixar a Selic, a taxa básica que norteia os juros no Brasil. Como exemplo, a primeira deflação de 2023, em junho, mês no qual o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador considerado a inflação oficial do País, registrou queda de 0,29% no mês, o que fez com que a inflação ficasse negativa em 0,08%.
Outro exemplo pode ser a aprovação da reforma tributária pela Câmara dos Deputados, em julho, por 382 votos favoráveis e 113 contrários, além de três abstenções. O texto base da PEC 45/19 (Proposta de Emenda à Constituição) prevê criação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), que irá englobar o ICMS e o ISS (Imposto Sobre Serviços) e será de responsabilidade de Estados e municípios; e a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que irá substituir o PIS (Programa de Integração Social), o PIS Importação, a Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e a Cofins Importação, arrecadada pela União.
Além disso, também houve pressão por parte do governo, de centrais sindicais e de vários outros segmentos da sociedade, além das recentes quedas no preço do dólar, dos preços dos combustíveis, do desemprego e a melhora da confiança na economia, inclusive com elevação de nota de crédito por parte de agências de classificação de risco.
Com tudo isso, no último dia 2 de agosto o Copom (Comitê de Política Monetária), do BC, por cinco votos a favor e quatro contrários, reduziu a Selic em 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano, depois de manutenção desse patamar por sete vezes consecutivas. O colegiado informou na ocasião que os oito integrantes do Copom mais o presidente Roberto Campos Neto preveem cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões, marcadas, neste ano, para 19 e 20 de agosto, 31 de outubro e 1º de novembro e 12 e 13 de dezembro.
Mas como a queda da Selic pode dinamizar as ações de varejo em 2023? O BC utiliza a Selic como principal instrumento para tentar alcançar a meta de inflação. De acordo com especialistas no assunto, se a inflação estiver controlada, a tendência é a de que a instituição a diminua gradativamente, chegando a patamares com menos de dois dígitos, cenário tido como ideal por especialistas.
Um dos fatores que poderiam ser usados como justificativa para a taxa Selic alta, a inflação tem passado por quedas nos últimos meses, isso devido a alimentos e também aos combustíveis depois da nova política de preços implementada pela Petrobras. As consequências da Selic alta são sentidas no encarecimento do crédito e na desaceleração da economia, entre outros fatores.
Porque, quando há a manutenção da taxa alta, com objetivo de conter a demanda aquecida, há reflexo nos preços dos produtos porque juros nas alturas tornam caro o crédito e estimulam a poupança. Ou seja, quanto menos crédito, menos consumo. Quanto menos consumo, menos produção. E quanto menos produção, maiores os riscos de aumento no número de desempregados, entre outros malefícios.
Por outro lado, a tendência é que fique mais barato o crédito com taxa mais baixa, o que possibilita a criação de incentivo ao consumo e à produção, e faz com que diminua o controle sobre a inflação e estimule a atividade econômica.
Volney Gouveia, gestor do curso de Ciências Econômicas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e gestor adjunto da Escola de Gestão e Negócios da mesma instituição, avalia que muitas e grandes empresas não realizam investimentos que poderiam gerar emprego, renda, desenvolvimento, para comprar títulos do governo ou para aplicar na renda fixa, cuja remuneração está atrelada à taxa Selic.
“Selic alta compromete a retomada do crescimento econômico, mantendo os empresários reativos e pouco dispostos a correr riscos, porque, hoje, é muito mais fácil você pegar uma sobra de caixa e aplicar na renda fixa, ganhando, pelo menos, 12%, 11%, de rendimento líquido, já descontado o Imposto de Renda, sem fazer absolutamente nada”, explica.
Outro componente grave da Selic alta apontado pelo economista é o custo financeiro para o governo, que deverá gastar somente em 2023 R$ 700 bilhões com pagamento de juros sobre a dívida, valor equivalente a mais de dez programas Bolsa Família.
“Não apenas do desenvolvimento econômico, do crescimento econômico, do emprego, há um forte prejuízo, por outro lado, às finanças públicas, na medida em que tira, inclusive, a capacidade do próprio governo em realizar investimentos, por que ele vai ter de destinar, pelo menos, algo em torno de 5% a 7% do PIB (Produto Interno Bruto) para o pagamento de juros, insisto, para um grupo pequeno, minoritário, da sociedade brasileira que está se beneficiando fortemente dessa transferência de renda”, conclui.